Núcleo de Estudos de Doenças Auto-imunes

Sociedade Portuguesa de Medicina Interna
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Lúpus

O QUE É O LÚPUS?

É uma doença auto-imune, em que o sistema imune ou imunológico – o sistema constituído pelas células, como os linfócitos e mediadores como os anticorpos -, que normalmente protege o nosso corpo, se vira contra si próprio e o ataca, provocando inflamação e alteração da função do órgão afectado. A inflamação pode provocar dor, calor, vermelhidão (ou rubor) e inchaço (ou edema).

Não existe causa conhecida de Lupus e não existe cura para esta doença. O Lupus é uma doença crónica (para toda a vida), ainda que existam fases de remissão (em que a doença se encontre “adormecida”, i.e., inactiva) e fases de surto (em que a doença reactiva).

A doença pode afectar muitos órgãos e sistemas diferentes (daí a denominação sistémica), em especial a pele e articulações, e podem existir formas muito diferentes da doença (i.e., os sintomas variam de doente para doente e até, no mesmo doente, de período para período).

O Lupus tem um amplo leque de gravidade, podendo ter complicações muito graves, que exigem atenção urgente. No entanto, as terapêuticas actuais permitem dar à maior parte dos doentes uma boa qualidade de vida.

 

QUE DIFERENTES TIPOS DE LÚPUS EXISTEM?

Existem duas formas de Lúpus:

  • Lupus Eritematoso Sistémico (LES)

O LES é uma doença mais generalizada, que pode afectar qualquer órgão ou sistema do corpo.

  • Lupus Discóide

O Lupus discóide é uma forma de Lupus que atinge só a pele. Discóide significa “em forma de disco” e descreve as lesões cutâneas.

Este pode por vezes evoluir para LES.

 

QUE PESSOAS SÃO AFECTADAS?

O sexo feminino é oito a dez vezes mais afectado (em relação ao sexo masculino), sobretudo em idades férteis. As idades mais frequentes para o início do Lupus são entre os 18 e os 55 anos, mas esta doença pode iniciar-se em qualquer idade (crianças ou idosos).

Os familiares de doentes com doenças auto-imunes (Lupus, Tiroidite, Artrite Reumatóide, Diabetes tipo 1, Síndrome de Sjögren, Síndrome Antifosfolípido, …) têm maior probabilidade ou risco de serem afectados por estas doenças, ou seja, existe uma predisposição familiar, mas o Lupus não é considerada uma doença hereditária no sentido clássico do conceito. Explicitando melhor: em gémeos “verdadeiros” se um tem LES a probabilidade do outro também ter é de cerca de 40 %; nos outros gémeos a probabilidade é só de 2 %. Quanto à probabilidade do filho/a de uma mulher com LES também o ter é só de 2 %, enquanto nas outras mulheres é de 0,4 %.

 

QUAL A DIFERENÇA ENTRE CAUSAS E FACTORES PRECIPITANTES DE LÚPUS?

Como já se referiu, não existe ainda uma causa conhecida para o Lupus, excepto para as (raras) formas que são causadas pela ingestão de alguns fármacos específicos. As causas de Lupus estão relacionadas com condições que dão origem a uma certa predisposição para uma pessoa ter a doença. Estas causas ou factores são de ordem genética, hormonal e ambiental, mas esta é uma questão ainda pouco esclarecida.

Os factores precipitantes são situações que evidenciam (ou “tornam visível”) os sintomas de Lupus, ou seja, fazem com que a doença se manifeste em sintomas e sinais evidentes como, por exemplo, stress físico, stress emocional, infecções, gravidez, luz solar, luz fluorescente, …

 

COMO É QUE SE DIAGNOSTICA LÚPUS?

O diagnóstico de Lupus baseia-se em dados clínicos e laboratoriais. Os testes laboratoriais, só por si, não são suficientes para o diagnóstico. Ou seja, uma pessoa pode ter positiva a análise mais conhecida como associada ao LES (ANA – Anticorpo Antinuclear) e ser sempre saudável. No entanto, em conjunto com os sintomas referidos pelo doente e os sinais observados pelo médico, são muito úteis.

Nalguns casos o diagnóstico é difícil de obter porque, apesar de se suspeitar fortemente de Lupus, os dados clínicos nesse momento não são suficientes para fazer um diagnóstico. Nestes casos, só o desenrolar da situação clínica é que nos confirmará a presença da doença. Por outro lado, o Lupus tem formas de apresentação muito variadas, facto que também pode dificultar o diagnóstico.

Uma imagem que pode traduzir todas estas dificuldades é a de um puzzle: múltiplas peças vão mostrar uma determinada imagem mas tal só é compreendida conforme o número e o tipo de peças que nos vão entregando; às vezes é mais fácil chegar à compreensão da imagem, outras vezes mais difícil…e, se só nos derem poucas peças teremos que aguardar até que nos dêem o número mínimo de peças que nos permita ter ideia da imagem que esse puzzle representa.

 

QUAIS OS SINTOMAS E SINAIS QUE SUGEREM LÚPUS?

Muito destes sintomas e sinais físicos ou laboratoriais são inespecíficos.

Quer dizer que podem aparecer em muitas outras situações. Outros podem ser mais específicos.

São essencialmente:

  • Cansaço, perda de apetite (anorexia) e emagrecimento.
  • Manchas vermelhas/rosadas na pele da face (sobretudo nas bochechas e nariz, em forma de borboleta), pescoço ou braços.
  • Manchas vermelhas/rosadas, em forma de disco, na pele (que nessas zonas fica mais sobressaída) e que pode deixar cicatriz – lesão discóide. Perante estes problemas o médico pode necessitar de realizar uma biópsia cutânea (retirar uma pequeníssima parte da pele com um bisturi para observação ao microscópio).
  • Excessiva sensibilidade à luz solar – fotossensibilidade
  • Mudança de cor das extremidades (geralmente dos dedos das mãos ou pés) que se tornam brancas ou azuladas, desencadeada pelo frio e/ou emoções (fenómeno de Raynaud).
  • Perda de cabelo acentuada (alopecia), por exemplo, acordar com muitos cabelos na almofada
  • Úlceras (feridas) na boca ou nariz, às vezes pouco dolorosas
  • Dores nas articulações (geralmente mais que duas e sobretudo nos dedos das mãos, punhos, joelhos, tornozelos ou anca) com predomínio matinal e, por vezes, acompanhadas de rigidez e/ou calor, vermelhidão, inchaço e dificuldade nos movimentos (artrite, isto é inflamação da articulação) geralmente sem deformações articulares.
  • Inflamação da pleura (revestimento dos pulmões) – pleurisia, que se manifesta por dor torácica que se agrava com a inspiração profunda e com a tosse e/ou derrame (existência de líquido) na pleura.
  • Inflamação do pericárdio (revestimento do coração) – pericardite, que se manifesta por dor torácica que alivia quando o doente se dobra para a frente e para baixo sobre os joelhos e/ou derrame no pericárdio.
  • Problemas de funcionamento do rim: existência de proteínas (albumina) na urina (onde normalmente não existem) – proteinúria, que é geralmente acompanhada de inchaço das mãos, face e pés – e/ou existência de fragmentos de células do sangue e/ou do rim na urina (que em situações normais não existem) – cilindros. Perante estes problemas o médico pode necessitar de realizar uma biópsia renal (retirar uma pequeníssima parte do rim com uma agulha para observação ao microscópio), para melhor decidir o tratamento mais adequado.
  • Convulsões (movimentos do tipo de epilepsia) e/ou depressões, psicoses,…
  • Cansaço, palpitações, palidez, … (por anemia)
  • Aumento da susceptibilidade e da frequência de infecções (por diminuição do nº de glóbulos brancos, …).
  • Hemorragias/ nódoas negras fáceis (por diminuição do nº de plaquetas).

Embora todos estes possam existir no mesmo doente (tornando o diagnóstico mais fácil), noutros casos só alguns existem numa determinada fase e num mesmo doente.

 

QUAIS AS ALTERAÇÕES LABORATORIAIS QUE SUGEREM LÚPUS?

São essencialmente:

  • Alterações do hemograma:
    • Diminuição dos glóbulos vermelhos, também chamados eritrócitos, (anemia) por destruição destes (anemia hemolítica) ou diminuição da sua produção (anemia da doença crónica),
    • Diminuição dos glóbulos brancos, também conhecidos como leucócitos, (leucopenia) e em particular de um subtipo específico dos leucócitos: os linfócitos (linfopenia)
    • Diminuição das plaquetas (trombocitopenia)
  • Alterações dos parâmetros da inflamação:
    • Elevação da velocidade de sedimentação (VS)
  • Alterações imunológicas:
    • Existência de auto-anticorpos (substâncias que reconhecem e atacam constituintes do nosso próprio corpo):
      • anticorpos antinucleares (ANA)
      • anticorpos anti-dsDNA e anti-Sm
      • anticorpos anti-SS-A e anti-SS-B
      • anticorpos anti-RNP
      • anticorpos antifosfolípidos (anti-cardiolipina, anti-b2 glicoproteína 1,…), muitas vezes associados a tromboses
    • Diminuição de determinados componentes do Complemento (substâncias que atacam e destroem as substâncias reconhecidas pelos anticorpos): C3, C4 e CH50.

Embora todas estas alterações laboratoriais possam existir no mesmo doente, em muitos casos só alguns existem numa determinada fase e num mesmo doente.

Os resultados destes parâmetros devem ser interpretados pelo médico assistente do doente, tendo em conta o contexto clínico.

 

COMO EVOLUI NORMALMENTE O LÚPUS?

Dá vontade de dizer que há “ Lupus, lupinhos e lupões”…ou como Vasco Santana dizia “chapéus há muitos…”

Quer dizer que há Lupus muito “bonzinhos” que se ficam pelo atingimento da pele e articulações (embora o envolvimento deste órgãos possa ser bastante severo e incapacitante em alguns doentes) e Lupus muito graves com envolvimento de múltiplos órgãos que podem pôr em risco imediato a vida do doente se não forem tratados com rapidez e “agressividade”.

A evolução do Lupus é imprevisível. Geralmente é uma doença não muito grave mas, sem tratamento, pode tornar-se grave e mortal.

Quando bem orientado e tratado, pode viver-se com Lupus com muito boa qualidade de vida (isto é, mantendo uma vida normal), como já foi referido.

Ou seja, é uma doença incurável, como tantas outras, mas pode ser controlada sob tratamento adequado. Apesar disso, as pessoas com Lupus têm maior tendência para problemas médicos e estes podem, por vezes, necessitar de internamento hospitalar.

 

O QUE É UM SURTO?

Um surto é uma agudização da doença, que se manifesta pelo agravamento de sintomas pré-existentes ou pelo desenvolvimento de novos sintomas. O doente pode sentir cansaço, dores articulares, úlceras orais, manchas vermelhas na pele, dores no peito ao inspirar, inchaços nas mãos, pés ou face, …

Os surtos podem assumir formas muito variadas, indicam actividade da doença e geralmente necessitam de terapêutica específica (dependendo do tipo de surto), que geralmente é diferente ou em doses maiores das que o doente habitualmente faz.

 

COMO SE PODE TENTAR PREVENIR UM SURTO?

  • Fazer consultas de rotina (sobretudo em períodos de maior stress, durante a gravidez, abortamentos, cirurgias, …) para reavaliar os sintomas, os sinais observados pelo médico e as análises e exames entretanto realizados, no sentido de reajustar o tratamento sempre que necessário.
  • Evitar o stress
  • Usar protectores solares e vestuário adequado para prevenir a exposição ao sol (que pode desencadear não só surtos na pele mas também surtos em outros órgãos como o rim, o pulmão, …) e evitar exposição a luz fluorescente, raios UV,…
  • Repousar adequadamente (sobretudo em períodos de maior stress).
  • Evitar fumar
  • Evitar esforços físicos exagerados
  • Tratar as infecções o mais precocemente possível
  • Pedir sempre aconselhamento sobre qual o melhor anticonceptivo oral (“a pílula”) evitando os que têm estrogénios em altas doses e a terapêutica hormonal de substituição, usada frequentemente nas mulheres com menopausa.

No entanto, os surtos podem ocorrer apesar de todos os cuidados preventivos que se possam tomar, sem razão aparente.

 

O QUE É UM PERIODO DE REMISSÃO?

Um período de remissão é um período de inactividade da doença.

Alguns casos podem tornar-se permanentemente inactivos, ou seja, em remissão total.

A remissão total é rara, mas a remissão parcial (período limitado) é frequente. Quase todos os doentes entram em remissão nalgum momento da sua vida, sobretudo quando a doença está a ser bem tratada e se cumprem as medidas preventivas adequadas.

A duração dos períodos de remissão é variável (semanas, meses, anos).

 

QUE TRATAMENTOS ESTÃO INDICADOS?

O objectivo do tratamento do Lupus é a prevenção do “ataque” dos órgãos vitais e a manutenção da doença inactiva, de forma a possibilitar a melhor qualidade de vida para o doente.

O plano terapêutico inclui os fármacos, o exercício e o repouso adequados, a dieta e evitar a exposição à radiação ultravioleta e stress.

TERAPÊUTICA FARMACOLÓGICA (Medicamentos)

Os fármacos são necessários para a maioria dos doentes com Lupus e constituem ainda a forma mais eficaz de tratar as formas graves de Lupus. Estes podem mudar frequentemente segundo as fases da doença. Alterações aos tratamentos prescritos pelo médico (doses, horários ou fármacos) devem ser apenas efectuadas com o acordo do médico assistente. O não cumprimento desta recomendação pode agravar a doença e torna a avaliação da evolução da doença difícil.

Os anti-inflamatórios (como, por exemplo, a Aspirina®, o Naprosyn®, o Voltaren®, o Nimed® e tantos outros, para além dos genéricos…) diminuem a inflamação, e são também antipiréticos (diminuem a febre e os sintomas acompanhantes desta) e analgésicos (diminuindo a dor). Estão
sobretudo indicados durante os surtos (sobretudo quando existem dores articulares, febre, cansaço, …).

Os principais efeitos secundários são os problemas de estômago. Estes podem ser evitados ou minorados com a ingestão destes medicamentos após as refeições ou acompanhada por medicamentos que protegem o estômago (como, por exemplo, Omeprazol, Gasec®, Losec®, Proton
®, Ranitidina, Peptab®, Zantac®, Sucralfato, Ulcermin®, …). O seu uso prolongado também pode provocar diminuição da função dos rins, pelo que devem ser usados com precaução nos doentes com problemas renais.

Os anti-maláricos (fármacos inicialmente usados contra a malária, como o Plaquinol® ou a Resoquina®) são frequente e eficazmente usados no Lupus (sistémico e discóide) mesmo nas fases de remissão, como estabilizadores do sistema imune, como estimuladores da resistência à exposição solar e da fadiga, embora não se saiba exactamente qual o mecanismo de acção destes fármacos nesta doença.

Os efeitos secundários mais frequentes são as náuseas, os vómitos e a diarreia. Podem ser utilizados durante largos períodos, mas o uso prolongado pode, muito raramente, provocar problemas oftalmológicos.

Na maioria dos casos estes são reversíveis com a suspensão precoce do tratamento, pelo que a sua utilização deve ser acompanhada por uma observação anual pelo oftalmologista, mesmo quando não existam queixas de diminuição da visão, visão turva ou pontos cegos.

Os corticóides – “a cortisona” – como, por exemplo, Meticorten®, Lepicortinolo ®, Solu-Dacortina®, Rosilan®, etc, são fármacos frequentemente usados no tratamento das formas graves de Lupus. Estão indicados em muitas manifestações graves (renais, pulmonares, …) e nalgumas formas menos graves (cutâneas, articulares, …), muitas vezes sob a forma de pomadas. São os mais potentes anti-inflamatórios disponíveis.

O seu uso prolongado pode provocar efeitos secundários tais como aumento de peso, inchaço da face, mãos, aumento dos pêlos, pele fina, feridas ou nódoas negras fáceis, dores musculares, psicoses (doenças psiquiátricas), osteoporose (“enfraquecimento” dos ossos), depressão, aumento da tensão arterial, cataratas, diabetes, aumento do risco de infecções ou hemorragias do estômago e aterosclerose (aumentando o risco de enfartes cardíacos, tromboses cerebrais). Ou seja os corticóides são extraordinariamente úteis para quem precisa deles e bastante prejudiciais para quem não necessita. Por isso quer o médico, quer o doente devem regularmente questionar-se sobre a sua indicação ou continuação.

Qualquer tipo de cirurgia ou traumatismo importante pode implicar uma necessidade de aumentar as doses de corticóides, quando o doente estava sob esta terapêutica previamente. As doses só devem ser estabelecidas, alteradas ou suspensas com o acordo do médico assistente.

A suspensão de um tratamento prolongado implica sempre um “desmame” (redução gradual das doses).

Os imunossupressores são medicamentos que “acalmam, enfraquecem” o sistema imune, diminuindo o seu funcionamento e portanto a resposta inflamatória autoimune que existe no Lupus (como o Imuran®, Endoxan®, Cellcept®, Sandimmun®, Ledertrexato®, etc.).

Os imunossupressores são usados apenas nalgumas formas graves de Lupus porque apresentam efeitos secundários que podem ser graves: falta de células no sangue (porque diminuem o funcionamento da medula óssea onde se formam as células do sangue) o que pode resultar em anemia e aumento do risco de infecções e hemorragias, perda de cabelo, úlceras na boca e no estômago, diarreia, problemas de fígado (semelhante à hepatite), diminuição da fertilidade (por vezes irreversível) e aumento do risco de cancro. Alguns destes efeitos secundários são pouco frequentes e podem ser evitados quando determinadas precauções são tomadas.

O uso de imunossupressores implica portanto uma vigilância médica mais apertada que o habitual. No entanto, em determinadas situações, estes medicamentos são imprescindíveis e podem salvar a vida (ou um órgão) ao doente.

As imunoglobulinas (Flebogammadif®, Kiovig®, Octagam®, Privigen®, Sandoglobulina®) são cada vez mais usadas em situações graves que não responderam a outras terapêuticas. Têm relativamente poucos efeitos secundários e estes são essencialmente precoces e reversíveis, dos quais uma reacção semelhante à alergia é o mais frequente (falta de ar, febre, tremores, …).

Existe uma nova classe de medicamentos, cujo uso no Lupus está ainda em fase experimental,mas que em breve promete ser uma das opções terapêuticas. Trata-se das terapêuticas biológicas, fármacos que são produtos da engenharia genética, como por exemplo Rituximab (MabThera®) – que tem sido utilizado off-label, ou seja sem a aprovação das entidades reguladoras dos medicamentos, em doentes com situação clínica grave e sem resposta a fármacos “clássicos” – e outros como o Belimumab (BenLysta®) que recentemente obteve resultados muitos entusiasmantes.

Nestes últimos anos vários medicamentos têm sido testados no Lupus através dos chamados “ensaios clínicos”. É fundamental que os doentes compreendam que sem estes ensaios clínicos os medicamentos não podem sair para o mercado com indicação para serem usados nos doentes com Lupus.

Estes ensaios clínicos comparam os novos medicamentos com os mais antigos, aqueles que já usamos na prática clínica, e só se forem superiores nos resultados é que poderão ser comercializados. Os ensaios clínicos estão sujeitos a regulamentação muito bem definida por agências do medicamento independentes como a FDA americana e a EMEA europeia, que põem a defesa do doente em primeiro lugar. É muito importante que os doentes compreendam que sem a sua participação nestes ensaios – que é e será sempre voluntária, quer dizer que o doente pode sempre recusar a sua participação sem perda de qualquer direito na sua assistência médica – será muito difícil avançar na luta contra a doença. Por outro lado, os serviços onde são tratados os doentes com lupus devem trabalhar para estarem integrados nas redes mundiais a quem são oferecidas a possibilidade dos seus doentes participarem nos referidos estudos ou ensaios.

Para além dos medicamentos referidos há um lugar muito importante para muitos outros medicamentos como o cálcio (ajudar a prevenir a descalcificação e fracturas), medicamentos antihipertensores e para controlar o colesterol, assim ajudando a prevenir complicações como o enfarte cardíaco, tromboses, etc.

TERAPÊUTICA NÃO FARMACOLÓGICA

Um adequado equilíbrio entre exercício e repouso é imprescindível para um bom controlo da doença.

Durante os surtos, o repouso (físico e intelectual) deve ser privilegiado.

Deve ser assegurado um bom repouso/sono nocturno e períodos de repouso/sono/relaxamento durante o dia. Embora não seja habitualmente necessário abdicar das suas actividades habituais (à excepção de actividades muito cansativas), por vezes é necessário diminuir o nº de horas de trabalho e é aconselhável pedir maior ajuda à família nas tarefas domésticas.

Durante os períodos de remissão é importante manter algum tipo de actividade física adequada (durante os surtos também, ainda que muito mais suave), para evitar a rigidez articular, a osteoporose, a fraqueza muscular e a fadiga (e para melhorar a função do sistema imune e o bem estar mental!). A fisioterapia e o exercício aeróbio adequado (sobretudo em água) ajudam a relaxar e a manter a função dos músculos e articulações. A fisioterapia (com o uso do calor e frio) também pode diminuir a inflamação.

A privação de sono sistemática pode precipitar um surto.

A dieta pode ser um factor determinante sobretudo quando existe atingimento do rim. Nessas situações é importante diminuir o conteúdo de proteínas (presentes na carne, peixe, clara de ovo, leite e derivados) e de sal (sobretudo quando existe pressão arterial elevada e/ou retenção de líquidos).

Os doentes tratados por longos períodos com corticóides também devem ter uma atenção especial em relação ao cálcio e à vitamina D, isto é, devem privilegiar alimentos com leite ou derivados. O resto dos doentes com Lupus devem seguir as normas dietéticas que existem para a população em geral, nomeadamente uma dieta variada, equilibrada e saudável com abundantes vegetais, poucas gorduras, …

Mais que qualquer medicamento, evitar a exposição aos raios ultravioleta (solares ou artificiais) é de extrema importância (tanto directa como indirectamente). A exposição solar pode precipitar surtos na pele mas também pode precipitar surtos nos outros órgãos (como o rim, os pulmões, …).

O uso de protectores solares (com factores de protecção acima de 15) em todas as actividades ao ar livre, sobretudo durante o Verão, mas mesmo durante o Inverno nas áreas expostas é fundamental. Evitar as horas de maior exposição solar durante o Verão e o uso de vestuário adequado (mangas compridas mesmo no Verão, chapéus de abas largas, roupa de cores claras, …), também pode ser crucial.

Evitar o stress tem também um papel primordial no controlo dos sintomas do Lupus. É importante ajustar o horário laboral de modo a ser o menos “stressante” possível. Nos períodos da vida em que o stress é impossível de evitar devem tomar cuidados especiais como repousar mais e melhor e adquirir hábitos de relaxamento, …

 

O DOENTE COM LÚPUS PODE SER VACINADO?

Tem-se discutido a possibilidade das vacinas poderem estimular não só as respostas imunológicas protectoras para o agente microbiano desejado, mas também aumentar ou potenciar a agressão imunológica contra o próprio organismo. Sabe-se que a seguir a algumas vacinas houve pessoas que desenvolveram doenças autoimunes mas não há dúvida nenhuma que os benefícios das vacinas ultrapassam de longe alguns prejuízos que possam acontecer. Assim os doentes com Lupus devem falar com os seus médicos sobre que vacinas fazer, uma vez que a maioria dos doentes têm as suas defesas diminuídas quer pelo número diminuído de linfócitos, quer pela medicação que tomam.

 

QUAL O MÉTODO DE CONTRACEPÇÃO MAIS INDICADO NAS DOENTES COM LÚPUS?

A contracepção é muito importante nas doentes com Lupus uma vez que é uma doença que afecta na maioria mulheres em idade fértil e se a gravidez acontecer numa altura em que a doença está em actividade pode trazer riscos para a mãe e para o bebé. Para além disso, alguns dos medicamentos utilizados para controlar o Lupus mais grave têm efeitos teratogénicos (pode trazer deficiências para o bebé) por isso a contracepção eficaz enquanto se está a tomar esses medicamentos é obrigatória.

Há uma grande polémica na utilização dos anticonceptivos orais (“pílula”) nas mulheres com Lupus, porque as primeiras “pílulas” que existiam tinham doses elevadas de estrogénios e aumentavam o risco de surtos de Lupus. Nas doentes com Lupus ligeiro, a utilização de “pílulas” mais modernas com dose baixa de estrogénio não parece aumentar o risco de surtos ou actividade global da doença, mas deve ser evitada nos Lupus mais graves, principalmente se existir doença renal, cerebral, anticorpos antifosfolípidos ou síndroma antifosfolípido.

As pílulas só de progestativos (ex: Cerazette®) apesar de não terem tanto risco de complicações, são muito menos eficazes e não devem ser usadas como método anticonceptivo único. Os implantes de derivados progestativos (Depo-Provera®, Implanon®) são eficazes e não têm os mesmos riscos trombóticos que as pílulas com estrogénio, podendo ser uma opção eficaz.

Os dispositivos intra-uterinos (DIU’s) são geralmente seguros, no entanto, se a mulher têm tendência para infecções pélvicas ou risco aumentado para infecções de transmissão sexual não são uma boa opção.

Principalmente, se a mulher com Lupus está a fazer medicamentos que deprimem o sistema imunitário, deve ser avaliado o risco de infecção ginecológica antes de colocar o DIU.

Os métodos de contracepção escolhidos pela mulher com Lupus devem ser discutidos com o Médico Assistente porque para além dos riscos ou complicações das diferentes pílulas pode ainda haver interacção com medicamentos que esteja a tomar e que diminua a eficácia da pílula utilizada…

Sempre que isso possa acontecer deve para além da pílula ser utilizado um método de barreira (ex: preservativo masculino ou feminino).

Apesar das questões de contracepção se aplicarem maioritariamente à mulher com Lupus, nos homens com Lupus há situações em que a contracepção também é obrigatória, por exemplo quando são necessários alguns tipos de imunossupressores… Por isso, pergunte sempre ao seu Médico se os medicamentos interferem com a fertilidade e se podem trazer problemas para o bebé.

 

QUE CUIDADOS SE DEVEM TOMAR DURANTE A GRAVIDEZ?

A gravidez e o período pós-parto podem precipitar um surto de Lupus, mas na maioria dos casos estes decorrem sem problemas. Uma doente com Lupus e grávida deve discutir com o seu médico assistente os possíveis riscos que correrá durante estes períodos e tentar cumprir as recomendações que o médico lhe indique. A gravidez deve ser planeada e devem recorrer a uma consulta pré-concepcional com um médico obstetra habituado a acompanhar estas doentes.

Alguns medicamentos usados no tratamento do Lupus não podem ser usados durante a gravidez, o que torna a consulta com o médico assistente muito importante, quando a mulher está a programar engravidar ou mal saiba que está grávida.

Sempre que for possível planear a gravidez, esta deve ocorrer num período de inactividade da doença.

Algumas doentes com Lupus, sobretudo quando coexiste Síndrome Antifosfolípido podem ter alguma dificuldade em engravidar, mas hoje em dia há formas de minorar este problema.

 

EXISTE UMA ASSOCIAÇÃO DE DOENTES COM LÚPUS?

A ligação a associações de doentes, por exemplo a Associação Portuguesa de Doentes com Lupus, é importante, para receber informações e participar em encontros em que possa partilhar com outros doentes e familiares a sua experiência e aprender estratégias de resolução de problemas.

Ver o exemplo de outros que têm uma vida feliz, adaptados às suas incapacidades, é o melhor estímulo para ultrapassar as barreiras com que se confronta.

Contacto da Associação de Doentes de Lupus:

Praça João do Rio, 9 r/c Dto.

1000 – 180 Lisboa

Tel. 218446473Fax. 213146216

Linha verde: 800 200 231

 

Núcleo do Norte

Rua Engº António Costa Reis, 322 1ºesq

4460 – 235 Senhora da Hora

Tel./Fax 229544941
Núcleo dos Açores

Rua do Pau Santo, 20/20ª

9700 – 145 Angra do Heroismo

Tel. 295218777
Núcleo da Madeira

Rua Dr. Brito Câmara , 18

9000 – 039 Funchal

Tel. 291241458

E-mail: associacao.lupus@clix.pt

 

A QUEM DEVE RECORRER?

O Lupus exige a colaboração de uma equipe multidisciplinar. Deve haver uma estreita ligação entre o Médico de Medicina Geral e Familiar e os Especialistas neste tipo de doença, sendo frequente haver necessidade da intervenção de outras Especialidades, assim como a de outros
Técnicos como os Enfermeiros, Psicólogos, Fisioterapeutas, Assistentes Sociais e outros.

Os Especialistas com mais experiência neste tipo de doenças são os de Medicina Interna e de Reumatologia. Também alguns Nefrologistas assumem a responsabilidade global por estes doentes e não apenas do rim.

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2016-10-16T12:02:11+01:00 2016-7-6|Categories: Informação ao Doente|Tags: , |